Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.

Consorciar gramíneas perenes de verão com leguminosas anuais e/ou perenes de inverno e verão, sem revolver o solo, é a forma mais eficiente de construir sistemas com alto potencial produtivo, com dispersão da produção por todos os meses do ano, colhendo pastagens de alta qualidade (Figura 14).

Principais vantagens do uso de pastagens perenes consorciadas em sistemas produtivos à base de pastagens:

  • Apresentam altos potenciais produtivos no Sul do Brasil;

  • Possuem longo ciclo de produção, com distribuição mais uniforme da produção durante todo o ano;

  • No conjunto o sistema tem menor dependência do uso de alimentos conservados (silagem/fenos) e concentrados;

  • Apresentam maior potencial na produção de leite por vaca e por área, quando comparado a um sistema com gramíneas puras;

  • Diminuem ou amenizam os problemas de erosão do solo, através da cobertura vegetal e da palhada acumulada sobre o solo;

  • Utilização mais eficiente dos nutrientes, luz e água em função dos diferentes períodos de crescimento das espécies e diferentes profundidades do sistema radicular;

  • Promovem um aumento gradual no teor de matéria orgânica, melhoria da fertilidade e qualidade do solo, diminuindo as necessidades de adubação;

  • O sistema apresenta maior capacidade de retenção de água no solo, diminuindo os efeitos do déficit hídrico;

  • Possibilitam a sobressemeadura (e ressemeadura natural) de pastos de inverno, sem necessitar movimentação/revolvimento do solo;

  • Possibilitam a produção de fenos de alta qualidade;

Têm custo de produção por quilo de pasto produzido menor, com alta qualidade.

Entretanto o sistema apresenta algumas limitações, as quais devem ser consideradas e trabalhadas visando consolidar a consorciação entre gramíneas de alto potencial produtivo com leguminosas:

  • Sistema altamente exigente em manejo em comparação a um sistema com gramíneas puras;

  • Apresentam menor potencial produtivo por área em relação a gramíneas adubadas com altas doses de nitrogênio;

  • Baixa persistência de algumas leguminosas, reduzindo a credibilidade do sistema consorciado;

  • Baixa disponibilidade de sementes no mercado.

  • Dentro das espécies de leguminosas recomendadas, destacam-se as seguintes espécies:

Amendoim-forrageiro (Arachis pintoi)

O Amendoim-forrageiro é uma leguminosa perene de verão com bom potencial forrageiro e valor nutritivo alto (3 a 6 toneladas de MS/ ha por ano e 18 a 20% de proteína e 60 a 65% de NDT), com alta palatabilidade e sem riscos de provocar problemas de timpanismo (Figura 15).

Apresenta crescimento no período primavera/verão, com destacada facilidade de consórcio com pastagens perenes de verão, como a Missioneiragigante, Tifton 85 e/ou Jiggs, capim Pioneiro e/ou Kurumi.

Apresenta hábito de crescimento estolonífero, com profundo sistema radicular e com meristema de crescimento ao nível do solo, o que lhe confere muito boa resistência ao estresse hídrico, alta resistência ao pastejo e ao sombreamento, de modo que, nessas duas últimas condições, tem a tendência de dominar as pastagens.

Adapta-se a diferentes condições de solo e fertilidade, manejo e luminosidade, sendo recomendada sua utilização em sistemas silvipastoris, principalmente nas linhas de sombra.

Trevo-branco (Trifolium repens)

As leguminosas de inverno podem ser utilizadas em consórcios com gramíneas perenes de verão ou gramíneas perenes de inverno. 

O trevo branco é uma leguminosa perene de inverno, com hábito de crescimento prostrado estolonífero, que se desenvolve naturalmente em regiões de clima temperado, sendo a principal espécie de leguminosa de inverno recomendada para consórcios (Figura 16). Apresenta médio potencial produtivo, com produções de 3 a 5 toneladas de matéria seca por hectare, alto valor nutritivo (20 a 25% de PB e 65 a 70% de NDT).

Seu ciclo produtivo se concentra no período inverno/primavera, em condições de clima ameno e alta umidade.

Consorcia-se muito bem com gramíneas perenes com hábito de crescimento prostrado (Tifton 85, Jiggs e Missioneira-gigante), sendo muito resistente ao pisoteio e à maior frequência do pastejo. A menor altura de corte favorece sua maior participação no consórcio, entretanto, é pouco tolerante ao sombreamento e não tolera adubações excessivas com adubos nitrogenados, químicos ou orgânicos (dejetos suínos). Em cultivo isolado ou um alto consumo, poderá provocar problemas de timpanismo.

Trevo-vermelho (Trifolium pratense)

O trevo-vermelho é uma leguminosa de inverno bianual, com hábito de crescimento semiereto. Apresenta médio potencial produtivo, com produções de 6 a 8 toneladas de matéria seca por ha, com alto valor nutritivo (20 a 25% de PB e 65 a 70% de NDT).

Seu ciclo produtivo se concentra no período inverno/primavera, em condições de clima ameno e alta umidade. Não tolera solos com baixa fertilidade e ácidos e, em regiões de clima quente, as temperaturas altas prejudicam sua persistência.

Consorcia-se muito bem com gramíneas perenes com hábito de crescimento prostrado, mas é uma espécie exigente em manejo e não tolera pastejos muito baixos (ideal 7 a 9cm de altura de resíduo) e frequentes (Figura 17). Não tolera adubações excessivas com adubos nitrogenados, tanto químicos como os orgânicos, principalmente dejetos suínos mal fermentados. Em cultivo isolado ou um alto consumo poderá provocar problemas de timpanismo.