Rodrigo Carvalho é Engenheiro Agrônomo, atua na Empresa Rodrigo Carvalho Projetos e Consultoria com foco em Topografia, Engenharia, Gestão Ambiental e de Projetos em Bambuí/MG.

Este é o último artigo de uma série de cinco, que tratam da relação entre a agropecuária e a preservação ambiental.

O primeiro deles abordou a relevância da agropecuária brasileira. Você pode ler este artigo aqui. Depois, o segundo artigo da série tratou da atribuição de terras no Brasil. Ele pode ser lido aqui. Esse artigo começou a apresentar uma realidade na qual o Brasil protege uma quantidade de terras bem maior do que talvez você imaginaria. Na sequência, foi publicado o terceiro artigo, que fala sobre a ocupação de terras no Brasil aqui. Por fim, o quarto artigo tratou sobre o uso de terras no Brasil aqui.

A intenção da sequência foi levantar conceitos de relevância, ocupação, atribuição e uso de terras, relacionar esses conceitos com a realidade brasileira, e desmistificar uma visão equivocada, de que a agropecuária brasileira seja responsável por todos os problemas ambientais tão falados atualmente.

Temos uma carga de ações históricas que afetam direta e indiretamente o meio ambiente, ações estas promovidas por absolutamente todas as pessoas, em maior ou menor grau. São 7 bilhões de indivíduos utilizando recursos e lançando poluentes de toda natureza, sobretudo a indústria.

Até o cidadão que nunca cortou um galho de árvore na vida tem sua responsabilidade, quando consome qualquer tipo de produto alimentício, animal ou vegetal. Afinal, esse alimento tem origem agropecuária. Ele é responsável também pelos danos da mineração e exploração do solo quando consome combustível, plástico, isopor, pedras e metais, o que inclui o material do computador ou dispositivo que está utilizando neste momento para ler este artigo. É responsável quando usa transporte, público ou privado, quando está em um ambiente com ar condicionado e até quando usa um desodorante com aerossol. É responsável quando mora em uma casa ou apartamento construído onde outrora existia uma floresta ou área de vegetação nativa. Também quando utiliza energia elétrica e água. Absolutamente tudo vem da exploração ambiental, e é fácil apontar culpados sem se conscientizar da própria responsabilidade, em maior ou menor grau.

No entanto, na hora de apresentar a conta, fica parecendo que o produtor rural é o único causador. Não se vê outra classe trabalhista sendo penalizada em uma parte tão substancial do seu patrimônio pessoal em nome do meio ambiente.

Soma-se a isso uma visão distorcida da realidade ambiental. Se perguntar a um cidadão comum qual porcentagem do território nacional é reservado à agropecuária e à preservação do meio ambiente, a resposta tende a subestimar em muito a área real.

O uso agropecuário é responsável pela ocupação de apenas 30,2% das terras em território brasileiro, menos da metade da área destinada à vegetação protegida e preservada, que é de 66,3%.

Metade da área de imóveis rurais do Brasil é ocupada por áreas declaradas como de preservação permanente e reserva legal. São 3,1 trilhões de reais em terras particulares destinadas à preservação, com custeio de cercamento e registro pelo próprio proprietário, sem nenhum apoio financeiro nem indenização do governo.

Se somadas as áreas protegidas, unidades de conservação, terras indígenas, terras devolutas e não cadastradas, temos ocupados 66,3% do território brasileiro, contra, por exemplo, 19,9% nos Estados Unidos.

Pretende-se, com esta série de artigos, levantar uma reflexão, não como forma de incitar o conflito e o debate nocivo, mas para que as opiniões sejam embasadas em informações reais e sólidas. Não na tentativa de invalidar a necessidade de preservação ambiental, visto que ela existe, mas tentando demonstrar como a responsabilidade por tal necessidade é de todos, não somente do produtor rural.

Estaria cada cidadão não produtor rural disposto a pagar um imposto destinado a cobrir parte do prejuízo do produtor rural, como forma de equilibrar a conta? Porque, atualmente, somente ele paga, sozinho.

Ademais, é preciso considerar a importância da agropecuária na economia nacional. Em tempos de polarização entre pandemia e economia, é válido lembrar que 38% da carne de frango do planeta é produzida no Brasil, assim como 43% da soja, 48% do açúcar, e 76% do suco de laranja do mundo, são todos produzidos no Brasil.

Tente pensar no impacto econômico ao limitar ainda mais o processo produtivo desses e de tantos outros produtos. Milhões de empregos, falta de produtos nas prateleiras dos supermercados, colapso econômico... São todas possibilidades reais.

O debate construtivo é importante. Fica a contribuição, com cinco textos que se complementam, no sentido de oferecer informações verdadeiras e importantes. A reflexão e o diálogo ficam abertos.

Fonte das imagens e informações: Embrapa (https://www.cnpm.embrapa.br/projetos/car/resultados.html)