Adilson de Paula Almeida Aguiar, Zootecnista, Especialista em Didática do Ensino Superior, em Solos e Meio Ambiente e em Produção Animal em Pasto; professor e pesquisador na FAZU de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia, de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia; foi coordenador técnico dos cursos de pós-graduação em Manejo da Pastagem e de Nutrição e Alimentação de Ruminantes; palestrante, consultor de projetos de pecuária de corte e de leite da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite. 

A concepção e a implantação de um projeto de produção de leite em pastagem intensiva. Serão aqui abordados somente aqueles fatores que diretamente têm influência nos resultados em um sistema de pastejo.

1. A sala ou Centro de Ordenha 

O centro de ordenha é “o coração” de uma propriedade leiteira, pois é lá que se pode medir a eficiência de todos os processos, das técnicas e tecnologias e da gestão empreendidos na condução do sistema de produção de leite como um todo. É onde os índices de produtividade podem ser calculados.  Por isso, deve ser a primeira preocupação de quem concebe e planeja o projeto.

a) Distância do centro de ordenha até os piquetes: quando o projeto ainda não foi implantado é possível planejar todas as instalações, edificações e benfeitorias, seguindo critérios e parâmetros científicos e técnicos. Neste caso o ideal seria centralizar o centro de ordenha no meio da área de pastagem, e os piquetes em sua volta. Considerando a categoria “vacas em lactação” a distância entre os fundos dos piquetes e o centro de ordenha deveria ser a menor possível, idealmente menos de 200 metros a, no máximo, 500 metros. Deve-se também levar em consideração a declividade do terreno: quanto maior for o declive, menor deverá ser a distância entre os fundos dos piquetes e o centro de ordenha. 

O pastejo é uma função tempo/dependente, já que ao longo das 24 horas de um dia a vaca tem que realizar várias atividades que lhes são naturais, a saber: além de pastejar para se alimentar, ela tem que ruminar, descansar e fazer as interações sociais com outros animais do seu grupo. No caso de vacas em lactação, a ordenha ainda concorre com o tempo de pastejo. Sendo assim, quanto mais distante for o centro de ordenha, maior deverá ser o percurso percorrido pela vaca diariamente pelo menos quatro vezes ao dia (duas idas e duas voltas para as duas ordenhas diárias), reduzindo assim o tempo para as outras atividades, além do maior gasto de energia no caminhar. É preciso também considerar que a vaca prefere pastejar nos horários em que as temperaturas são mais amenas, ou seja, se naqueles horários, os quais coincidem com os horários próximos aos da ordenha a vaca tiver que caminhar longas distâncias, sobrará menos tempo para ela pastejar em condições de conforto térmico.

E o que fazer em projetos já instalados em que na fase de planejamento e implantação do projeto não se pensou ou não foi possível dimensionar tudo com base no conhecimento cientifico e técnico? O que é possível fazer é deixar os piquetes mais próximos para a categoria vaca em lactação, preferencialmente para o lote com até 100 dias de lactação, para vacas de primeira e segunda lactação (ainda em crescimento) e para as vacas de maior produção de leite.

2. Irrigar ou não Irrigar a pastagem?

É outra decisão que deve estar em primeiro plano por quem concebe e planeja o projeto já que envolve um investimento considerável, é de importância estratégica, pois pode vir a constituir a tecnologia básica para a produção de forragem na propriedade.

a) Objetivos da irrigação da pastagem: nos últimos 115 anos os objetivos da irrigação da pastagem têm sido: solucionar o problema da estacionalidade de produção de forragem; reduzir custos de produção e tempo de trabalho para alimentar o rebanho; maior retorno líquido na produção animal quando comparado aos sistemas que precisam usar forragens conservadas (silagens, pré-secados, fenos) e grãos; usar menor área para a produção animal – intensificação do uso da terra; usar águas residuárias, dejetos líquidos de bovino, de suíno.

b) Como decidir por irrigar ou não irrigar? A primeira e a mais importante medida que deve ser tomada por parte do produtor é a contratação de uma consultoria especializada na área de pastagens irrigadas. Esta consultoria deverá: conhecer as coordenadas geográficas da propriedade (latitude e longitude) e a altitude; estudar as condições climáticas da região onde a propriedade se localiza (índice pluviométrico, evapotranspiração real e potencial, balanço hídrico, temperaturas média, máxima e mínima, incidência de geadas etc.); estudar os solos da região onde a propriedade se localiza (a classe dos solos, seu relevo, sua profundidade e drenagem, sua fertilidade, capacidade de retenção de água etc.); medir as vazões dos cursos de água da propriedade (córregos, rios, lagos, represas, etc.) no final da seca; ver nos órgãos estaduais ou federais de gestão de recursos hídricos se há outorga para uso da água naqueles cursos de água que passam pela propriedade; saber se a energia é monofásica ou se é trifásica; definir o sistema de irrigação; conhecer o mercado regional (preços de terras, alternativas de uso da terra, preços de venda dos produtos produzidos pelo produtor, linhas de financiamento com período de carência e prazo para pagamento, taxas de juros, etc.); conhecer o perfil da equipe da propriedade (o produtor e seus colaboradores).

Enfim, com todas estas informações e estes dados, a consultoria irá elaborar um diagnóstico e um projeto técnico e econômico da viabilidade da irrigação de pastagens naquela propriedade, para apresentar para o produtor.

Pode parecer complexo, e é mesmo, entretanto, quanto mais tempo for dedicado à fase do planejamento, mais eficaz será a execução do projeto e a probabilidade de cometer erros e de perder dinheiro será significativamente minimizada.

c) Sistemas de irrigação: existem vários sistemas de irrigação, tais como: os pivôs central e linear, a aspersão convencional com tubos superficiais, a aspersão em malha, o canhão autopropelido, a irrigação por inundação etc., mas os sistemas mais adotados com sucesso em pastagens no Brasil têm sido a o pivô central (geralmente para áreas acima de 50 ha) e a aspersão em malha (geralmente para áreas menores que 50 ha).

d) Qual é o valor do investimento na implantação de um sistema de irrigação e quanto tempo leva para que haja retorno para este investimento? O valor do investimento também varia com uma série de fatores, tais como: o sistema de irrigação em si, o ponto de captação de água, a distância para levar a água até o ponto onde a irrigação será feita, se vai precisar instalar um sistema de energia trifásica ou não, etc. Entretanto, o investimento em um sistema de irrigação tem ficado atualmente entre R$ 8.000 a R$ 20.000 por hectare.

Se todos os fatores aqui discutidos forem favoráveis e o programa for bem executado, em sistemas de produção de leite é possível o produtor já ter retorno a partir do segundo ou terceiro ano após o início do funcionamento do sistema de irrigação.

3. A escolha das Espécies Forrageiras 

É de extrema importância o esclarecimento de produtores e técnicos sobre os critérios para a escolha de uma espécie forrageira, critérios estes baseados cientificamente e validados tecnicamente em campo. Mas antes da avaliação dos critérios para a escolha da planta forrageira, o técnico que assiste ao produtor deve estudar o ambiente, compreendendo este o clima, o solo, os insetos pragas e as doenças de ocorrência na propriedade e região.

3.1. Critérios para a escolha das espécies forrageiras: (a) exigências climáticas; b) exigências em solo; c) comportamento frente a insetos pragas e a doenças; d) aceitabilidade pelos animais; e) distúrbios metabólicos causados aos animais; f) formas de plantio; g) formas de uso; h) potencial de produção; i) qualidade de forragem.

4. Estabelecendo a Pastagem

Um programa de estabelecimento de uma pastagem deve ser dividido em etapas. Cada etapa tem uma época mais adequada para ser executada em uma dada região. Além disso, cada etapa deve ser seguida com procedimentos padrões para serem executados, de forma a garantir o sucesso da execução ao executor do programa;     

4.1. As etapas: (a) escolha da área; b) medida e mapeamento da área; c) amostragem de solo para análise; d) estudo das condições ambientais da região - clima, solos, insetos pragas e doenças; e) escolha das espécies forrageiras; f) planejamento do programa de estabelecimento da pastagem; g) execução do programa: limpeza do terreno; correção e preparo do solo; aquisição de sementes e de mudas; métodos de semeadura ou de plantio por mudas; época de plantio e condições climáticas para o plantio; cobertura de sementes e de mudas; adubação de plantio; controle de plantas invasoras e a primeira colheita da pastagem.

5. Implantando a Infraestrutura da Pastagem e dos Piquetes 

Estando a pastagem estabelecida, antes da preocupação com “o manejo do pastejo” deve-se planejar a implantação da infraestrutura da pastagem, dimensionando as medidas dos recursos piquete, áreas de descanso, cochos para suplementação, fontes de água, sombreamento e corredores de acesso.

5.1. Dimensionando e implantando piquetes: a) O formato do piquete; b) A área do piquete. 

5.2. Tipo de cerca para redivisão dos piquetes. 

5.3. Dimensionando as áreas de descanso: (a) sombreamento; b) fontes de água; c) cochos para a suplementação dos animais; d) corredores de acesso aos piquetes. 

6. Manejando o Pastejo 

Vários experimentos foram conduzidos no Brasil a partir do final dos anos 90 comparando o manejo do pastejo orientado pela metodologia tradicional (mudança de animais dos piquetes baseado em dias fixos de ocupação e de descanso de cada piquete); com o manejo do pastejo orientado pela metodologia das alturas “alvos” para cada espécie/cultivar forrageira (que fundamentalmente reflete o momento em que o relvado das forrageiras está interceptando 95% da luz solar incidente).

O manejo do pastejo orientado pela metodologia tradicional não leva em consideração os fundamentos de fisiologia das plantas forrageiras, entre os quais, o de que a planta não responde ao calendário humano, ou seja, segundos, minutos, horas, dias, ou semanas ou meses, e sim a fatores de crescimento: tais como a radiação solar, a luz incidente, a temperatura ambiente, a água e aos nutrientes disponíveis no solo. Assim, quando aqueles fatores estão em sua disponibilidade máxima, o crescimento da planta (expansão diária em centímetros), e o acumulo de forragem (kg de matéria seca/hectare), é também maximizado. O que leva à necessidade de encurtar os períodos de ocupação e de descanso de cada piquete (o que significa encurtar o ciclo de pastejo) e aumentar a taxa de lotação, e vise-versa.

Na Tabela 1 estão reunidos alguns dados sobre o manejo do pastejo para as principais espécies forrageiras gramíneas exploradas em pastagens no Brasil.

De forma resumida quando o manejo do pastejo foi orientado pela interceptação luminosa os resultados daquelas pesquisas comparativas foram os seguintes: 1º)a planta forrageira acumulou mais forragem, composta por maior proporção de folhas verdes e menor proporção de caules e de folhas e de caules velhos; 2º)a planta forrageira acumulou mais forragem com maiores teores de proteína, menores teores de fibra e, portanto, com maior digestibilidade; 3º)as perdas de forragem por tombamento ou na touceira foram menores, o que levou a maiores capacidades de suporte (mais UA/ha) com aumentos entre 37 a 43%; 4º)os animais, tanto de recria, de engorda ou vacas em lactação que pastejaram os piquetes no tratamento em que o manejo do pastejo foi orientado pela interceptação luminosa consumiram mais forragem (aumentos entre 10 e 43%), de melhor qualidade e, consequentemente, apresentaram maior desempenho, tanto em ganho de peso (aumentos entre 28 e 319%), como em produção de leite (aumentos entre 18 e 30%); 5º)em consequência das maiores capacidades de suporte e do maior desempenho animal a produtividade por hectare de carne aumentou entre 7 a 119%, e a de leite 46 e 52%).

Essa técnica de manejo do pastejo começou a ser difundida no Brasil a partir de 2003, primeiro nas universidades (defesas de dissertações de mestrado e de teses de doutorado) e nos eventos científicos (congressos, simpósios, reuniões técnicas etc.). Posteriormente começou a ser difundida para técnicos e produtores (dias de campo, revistas etc.).

Não existe nenhuma restrição imposta nem pelos fatores REGIÃO, CLIMA, tipo de SOLO, ESPÉCIE FORRAGEIRA etc., para a adoção do manejo do pastejo baseado em “alturas alvos”. O maior desafio (e não restrição), considerando o perfil cultural do produtor brasileiro, está relacionado com a disciplina e a rotina de trabalho que a metodologia de manejo do pastejo através da interceptação luminosa requer. O produtor ou quem maneja o pastejo precisa andar diariamente nos piquetes para medir as alturas da planta para definir os momentos de mudar os animais de piquete, de acelerar ou de retardar o ciclo de pastejo entre outras decisões.

Estes resultados abrem novas perspectivas de ganhos significativos na produção e na produtividade das pastagens sem investimentos e aumentos de custos adicionais.

É preciso ressaltar que em todos aqueles trabalhos, as condições de clima e solo, as espécies forrageiras, os animais (de raças puras ou cruzadas), a infraestrutura (cercas, bebedouros, cochos etc.), a mão de obra, etc., foram iguais, sendo diferente apenas a prática do manejo do pastejo pela altura correta.

7. Gestão da Produção de Forragem Produzida na Pastagem para fins de Planejamento Alimentar

Uma vez estabelecidas a pastagem e a sua infraestrutura, e adotados os procedimentos de manejo do pastejo, é preciso gerir o crescimento e a produção de forragem, como também a sua utilização e a sua conversão em leite.

7.1. Por que gerir a produção de forragem produzida na pastagem e elaborar um planejamento alimentar?

As limitações para o crescimento de plantas no mundo se distribuem assim: em 36% do globo terrestre o crescimento é limitado pela temperatura; em 31% é limitado por déficit hídrico; em 24% é limitado por ambos os elementos climáticos e em apenas 9% da terra não há limitações de temperatura e de déficit hídrico.

Em sistemas de produção animal, o planejamento e as decisões ligadas à alimentação assumem papel fundamental, pois os alimentos se configuram no insumo de maior demanda e de maior participação na composição dos custos de produção (em sistemas de produção de leite chegam em média a 50% do custo operacional), o que traz implicações diretas no sucesso da atividade.

7.2. Níveis de planejamento alimentar em sistemas de pastejo         

O planejamento de qualquer empresa é dividido em três níveis básicos: o estratégico, o tático e o operacional. Em todos esses níveis de gerenciamento, devem-se considerar as estimativas de demanda, de produção e de estoque de forragem. 

7.3. Como gerir o crescimento e a produção da pastagem?

O uso de metas de pasto (altura) é uma ferramenta poderosa para o controle do processo de pastejo (determinantes dos períodos de ocupação e de descanso dos piquetes, etc.). Entretanto, não determina a capacidade de suporte e nem permite o cálculo de consumo de matéria seca (MS) e a eficiência do pastejo, a não ser que a densidade da massa de forragem já tenha sido calibrada, o que ainda não é uma realidade para todas as diferentes condições dos sistemas de pastagens brasileiros.

Uma das práticas para estabelecer as bases para o planejamento de sistemas pastoris é o calculo da sua capacidade de suporte através de metodologias de mensuração da forragem disponível. Tal prática não é adotada nas fazendas brasileiras e, até poucos anos, também era um assunto pouco tratado nos trabalhos de pesquisa.  

A falta de informações sobre a distribuição da produção de forragem ao longo do ano é, atualmente, a principal limitação para o planejamento criterioso de sistemas de produção em pasto. 

Em linhas gerais, o acúmulo de forragem nas áreas de pastagens é um processo dinâmico e extremamente variável, sendo a determinação da massa de forragem a base para o funcionamento de todo o sistema pastoril e a variável chave no entendimento de diversos outros componentes, como o consumo e a extração de nutrientes.

Existem pelo menos quatro tipos de fontes de informação para a previsão do suprimento de forragem pela pastagem, como a seguir.

7.4. Fontes de informação do crescimento e da produção de forragem: (a) experimentação; b) modelagem matemática; c) monitoramento da taxa de lotação; d) estimativa e monitoramento do crescimento da pastagem. 

8. Correção e Adubação do Solo da Pastagem

Na Tabela 2 encontra-se uma comparação das respostas ou ganhos alcançados em pastagens exploradas para a produção de leite cujos solos são corrigidos e adubados em comparação a uma pastagem explorada de forma extensiva:extrativista.

Apesar dos ganhos alcançados com a correção e adubação de solos de pastagens serem de conhecimento da comunidade cientifica e por parte de consultores, e de serem frequentemente divulgada por pesquisadores e técnicos, a adoção de programas de correção e adubação de solos de pastagens ainda é inexpressivo por parte dos produtores.

8.1. Uso de corretivos e adubos em pastagens no Brasil

As razões da baixa adoção de fertilizantes em pastagens no Brasil são muitas e a avaliação das causas é complexa e por falta de espaço e por não ser objetivo principal deste artigo não serão tratadas aqui.

8.2. Etapas de um programa de manejo da fertilidade de solos da pastagem.

Um programa de manejo da fertilidade de solos da pastagem deve contemplar as seguintes etapas: a) escolha da área; b) medição e mapeamento da área; c) amostragem de solo e de planta e envio das amostras ao laboratório; d) análise laboratorial; e) interpretação dos resultados de análises de solo e de planta e recomendações de correção e adubação; f) planejamento e execução do programa; g) práticas corretivas: calagem, gessagem, fosfatagem, potassagem, correção de micronutrientes, correção da matéria orgânica; h) práticas de adubação: com cálcio, magnésio, fósforo, potássio, enxofre, micronutrientes, nitrogênio; i) tipos de adubação: química, orgânica, orgâno-mineral; j) métodos de aplicação: manual, tração animal, tratorizado, aéreo, foliar, fertirrigação; k) avaliação dos resultados: resposta técnica e econômica; l) avaliação de impacto ambiental.

8.3. Otimizando a adubação em pastagens

O uso racional e otimizado de fertilizantes reveste-se de importância diante das projeções de exploração das reservas minerais de matérias-primas de fertilizantes, calculadas com base no consumo atual, que seriam de 96 anos para as reservas mundiais de gás natural (leia-se, nitrogênio) e de fósforo; de 230 anos para as de potássio e de 64 anos para as de enxofre.

No processo de intensificação do uso de fertilizantes em pastagens, três aspectos devem ser considerados: o nível, a proporção e a velocidade de intensificação.

Recomenda-se iniciar a intensificação pelas áreas de maior aptidão, com topografia plana a levemente ondulada; em solos profundos, bem drenados e mais férteis, protegidos com cobertura morta ou viva; em pastagens com bom “stand” de plantas; em áreas próximas à sede administrativa de fácil acesso às máquinas, etc..

A decisão por adubar uma área maior com menor quantidade de fertilizantes seria a opção escolhida por produtores e técnicos avessos a riscos. Sistemas pastoris com altas taxas de lotação exigem monitoramento mais constante e respostas mais ágeis e precisas em relação às variações relacionadas ao estado da pastagem.

A decisão pelo nível e pela proporção de se intensificar a adubação na propriedade ainda depende das metas de lucro almejadas pelo produtor, ou do lucro necessário para custear as despesas, do tamanho da propriedade e do preço da terra. Propriedades menores precisam operar com maior lucro/hectare do que fazendas de grande porte para obter um dado lucro anual. Propriedades localizadas em regiões de maior valor da terra precisam operar com maior lucro por unidade de área a fim de se manterem competitivas em relação às alternativas de uso da terra.

8.4. O manejo do pastejo para otimizar do uso de fertilizantes em pastagens

A amplitude observada na produção de forragem em resposta ao uso de fertilizantes depende: da espécie forrageira, dos níveis de adubação com outros nutrientes, do histórico da área (que inclui o efeito residual das adubações); do manejo da pastagem, da estratégia de manejo do fertilizante adotada na fazenda (dose, fonte e forma de parcelamento) e das características de clima e de solo da região, que interferem tanto na capacidade da planta em responder ao fertilizante como na recuperação e perda do fertilizante aplicado.

A eficiência de pastejo traduz a proporção da forragem acumulada que é consumida pelo animal, tal eficiência é afetada pelos fatores planta, animal e o manejo do pastejo. Na terceira e última etapa, a eficiência bioeconômica da adubação é determinada pela eficiência de conversão da forragem consumida em produto animal (kg MS/kg de ganho de peso corporal ou kg MS/kg de leite). Essa fase depende da qualidade da forragem e das características do animal. O produto das eficiências parciais nas três etapas – kg MS/kg de nutriente aplicado, eficiência de pastejo e kg MS/kg de produto animal – define a eficiência de uso do nutriente do fertilizante na produção animal.

Observa-se na Tabela 3 o impacto da eficiência do pastejo sobre os componentes, conversão alimentar (kg de MS/kg do produto) e conversão do N (kg do produto/kg de N) em sistemas de produção de carne e leite em pasto.

Para a amplitude mais comum na eficiência de uso do N-fertilizante e na eficiência do pastejo, verifica-se que a quantidade necessária para elevar 1 UA na fazenda num período de 220 dias de chuvas, varia de 40 kg de N/UA a 200 kg N/UA. Em fazendas comerciais, a amplitude mais provável de ser encontrada seria de 60 kg a 170 kg de N/UA para as condições de manejo excelente e muito ruim, respectivamente.

9. E o Animal para um Sistema Intensivo de Produção de Leite em Pasto?

Considerando sistemas de produção em pasto, aquela baixa produtividade reflete condições inadequadas de manejo da pastagem, erros no programa de suplementação dos déficits nutricionais deixados pela forragem, exposição do rebanho à radiação solar e às altas temperaturas ambientes, problemas sanitários, mas também reflete o baixo mérito genético das vacas. 

É preciso compreender que o animal (a vaca, por exemplo) e o que ele produz (leite, bezerros, etc.) dependem basicamente de três fatores: o genótipo do animal (a sua herança genética), o meio ambiente (onde ele foi criado e onde está sendo explorado), e uma interação entre o seu genótipo e o meio ambiente. 

Os principais componentes de um programa de melhoramento genético de um rebanho leiteiro deveriam ser: a identificação de touros e vacas superiores para serem os pais das novilhas de reposição; a inclusão das novilhas geneticamente superiores no rebanho e o descarte das vacas geneticamente inferiores.

O ganho genético máximo na produção/vaca será alcançado com uma reposição de 25%. Entretanto, o ganho máximo na rentabilidade será alcançado com uma taxa de reposição de 20%.

Os objetivos de um programa de melhoramento genético específicos para sistemas em pasto devem ser: selecionar vacas que tenham facilidade em pastar (ela deve ser capaz de caminhar e pastar) para converter eficientemente a forragem do pasto em grandes quantidades de leite com alto teor de sólidos, além de permanecerem sadias e com bom desempenho reprodutivo; deve ter resistência às doenças; ter rápido fluxo de liberação do leite; bom comportamento durante a ordenha; boa anatomia de úbere, tetas e pernas e ser longeva.

Considerando as proposições anteriores podem ser levantadas algumas limitações para o aumento do ganho genético dos rebanhos leiteiros no Brasil. Um grande número de programas de melhoramento genético utilizam parâmetros de avaliação diferentes e não têm seguido as tendências do que ocorre em outros países onde mais de 80% das vacas do rebanho em produção são avaliadas por uma única base de dados facilitando comparações e avanços rápidos. 

Para promover e garantir o melhoramento genético dos rebanhos leiteiros é estritamente necessário o uso da inseminação artificial na reprodução. Em países de pecuária leiteira desenvolvida entre 50 e 80% das vacas do rebanho são inseminadas artificialmente.

Será que ao adquirir sêmen de um touro cujas filhas (progênie) foram avaliadas em sistemas de confinamento, aqui ou em outros países, o produtor estará escolhendo a melhor opção se o seu sistema de exploração é em pasto? Na Nova Zelândia, vacas da raça holandesa de origem estrangeira comparadas com vacas da mesma raça de origem neozelandesa produziram 1,3% a menos de sólidos do leite, foram 70 kg, mais pesadas, apresentaram escore de condição corporal inferior e falharam em conceber em uma porcentagem nove vezes maior. As novilhas neozelandesas iniciaram sua puberdade 16 dias antes com 20 kg de peso vivo a menos. As conclusões destes trabalhos foram que as linhagens estrangeiras não se adaptaram aos sistemas de pastejos da Nova Zelândia por serem muito pesadas, por produzirem muito leite com baixa concentração de sólidos, por apresentarem maior demanda alimentar, por apresentarem pior condição corporal e serem menos férteis.

Mesmo vacas de alto mérito genético para produção de leite podem não manifestar/expressar seu mérito em sistemas de pastagens, se ela, seus antepassados e suas contemporâneas foram selecionados em sistemas de confinamento, e vice-versa. Entretanto, na maioria das situações a vaca expressa seu potencial de produção de leite à custa de seu desempenho reprodutivo, da sua saúde e da sua longevidade. Este fato pode ser explicado pela não interação genótipo/ambiente.

10. Suplementação Volumosa e Concentrada

A suplementação concentrada tem representado entre 20 a 25% dos custos operacionais nos sistemas de produção de leite em pastagens intensivas. Quando somados aos custos com suplementação volumosa, o custo com a suplementação chega a representar entre 40 a 50% dos custos operacionais. Por falta de espaço e por não ser objetivo deste artigo, ele não será tratado aqui.

Considerações Finais

Na Tabela 4 encontra-se uma comparação entre diferentes níveis tecnológicos de exploração da pastagem para a atividade de produção leiteira e seus impactos sobre as variáveis, taxa de lotação, produtividade por vaca, e produtividade por hectare.

Aquelas baixas produtividades levam a resultados econômicos pouco atrativos, mesmo com margens brutas por litro mais altas que as alcançadas nos sistemas intensivos, que são mais competitivos porque alcançam escalas de produção bem mais altas.

As margens alcançadas por hectare nas fazendas intensivas tornam a atividade leiteira mais competitiva que as alternativas de uso da terra. Chama-se a atenção que aquelas margens são provenientes apenas da venda do leite, não estando aí a receita alcançada com animais de descarte e para reprodução, a qual pode acrescentar mais 10 a 30% na receita anual.