Adilson de Paula Almeida Aguiar, Zootecnista, Especialista em Didática do Ensino Superior, em Solos e Meio Ambiente e em Produção Animal em Pasto; professor e pesquisador na FAZU de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia, de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia; foi coordenador técnico dos cursos de pós-graduação em Manejo da Pastagem e de Nutrição e Alimentação de Ruminantes; palestrante, consultor de projetos de pecuária de corte e de leite da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite. 

Num dos artigos anterior, trouxemos informações sobre o manejo da adubação nitrogenada em pastagem intensiva, um guia completo sobre esse importante nutriente para o crescimento das plantas. Agora chegou a vez do P (Fósforo), onde relato de forma detalhada informações que farão a diferença na condução e manejo do seu sistema intensivo.

Nível Crítico de P

É definido como sendo o valor da concentração de um nutriente no solo ou na planta, que corresponde à disponibilidade necessária para se obter a produção de máxima eficiência econômica. O nível crítico é um parâmetro para determinação de eficiência de adubação e vem sendo determinado para espécies forrageiras em condições controladas e de campo.

Os níveis críticos são variáveis em função de fatores como espécie, cultivar ou variedade da planta; condições climáticas; do tecido amostrado e sua idade; idade da planta; forma disponível do nutriente considerado e níveis de outros nutrientes. 

Forrageiras como a B. humidicola e o capim-jaraguá têm baixo nível crítico externo (menos de 5 ppm de P no solo). O andropogon também tem o mesmo comportamento. As leguminosas dos gêneros estilosantes, o siratro, o calopogônio e a puerária também têm baixo nível crítico externo.

A capacidade de algumas plantas forrageiras se desenvolverem em solos pobres em P pode ser devido às seguintes condições: a) capacidade de associação com micorrizas, que são fungos que habitam o sistema radicular das plantas. Faquin (1994) afirmou que as micorrizas aumentam a superfície de absorção e o volume de solo explorado pelo sistema radicular. As micorrizas são encontradas mundialmente. Não tê-las é uma exceção; b) capacidade das plantas usarem P, não disponível no solo porque alteram a acidez na sua rizosfera, liberando ácidos que solubilizam o P não disponível; c) capacidade de regular as taxas de crescimento sob deficiência de P; d) raízes extensas, com maior quantidade de raízes finas e pêlos absorventes longos; e) maior absorção por unidade radicular, condição de maior eficiência de aquisição de P; f) maior biomassa produzida por unidade de P absorvido, condição de eficiência de utilização; g) capacidade de disponibilizar formas menos lábeis de P devido à acidificação da rizosfera liberando ácidos que solubilizam o P não disponível.

Época e Formas de Aplicação

Os adubos fosfatados podem ser misturados com sementes por ocasião do plantio, pois possuem um baixo índice de salinidade, não causando danos às sementes, principalmente os superfosfatos simples e triplo, desde que as sementes não fiquem misturadas com o adubo por mais de 24 horas antes do plantio.

Segundo Vale et al., (1995), mesmo se o teor de P for alto no solo, os resultados de pesquisa mostraram que é muito importante a aplicação de uma pequena dose no plantio, para que promova um crescimento inicial vigoroso do sistema radicular e da parte aérea da planta.

Corsi (1989) ainda citou que a aplicação de P superficial é eficiente devido às seguintes condições: o P fica mais disponível, pois a fixação com Al3+, Fe3+ e Mn2+ diminui já que o contato com o solo é menor; o Fe3+ e o Al3+ reagem com os radicais carboxílicos da MO não reagindo com o P, deixando-o disponível às plantas; ocorre acúmulo de fontes orgânicas de fosfatos provenientes do acúmulo de MO. Essas formas de P são mais móveis no solo do que as formas inorgânicas ou minerais; o calcário aplicado na superfície do solo reage com o P e forma carbonatos de P que são mais solúveis do que compostos de P ligado a Fe3+ e ao Al3+.        

Cálculos para as Recomendações de Fosfatagem e Adubação

Para a fosfatagem corretiva, aplicam-se 4 kg de P2O5 para cada 1 % de argila. Dessa forma, um solo com 30 % de argila x 4 kg P2O5/% argila, precisará receber 120 kg de P2O5/ha, já incluindo as perdas por fixação. Esta recomendação visa matar a “fome” do solo em P e potencializar as adubações de manutenção.

Outro cálculo é aplicar 9 kg de P2O5 para cada 1 ppm de P que queremos elevar no solo. Corsi e Nússio (1993) sugeriram que para o início de trabalhos de intensificação da pastagem, o nível de P deve ser elevado para 10 ppm. 

Desta forma, em um solo com 1 ppm de P, precisamos elevar 9 ppm x 9 kg P2O5/cada ppm = 81 kg P2O5/ha ou 450 kg de superfosfato simples ou 180 kg de superfosfato triplo/ha.

Corsi e Nússio (1993) sugeriram que seja atingido um nível de 30 a 40 ppm de P no solo quando o objetivo for alcançar altas produtividades de forragem. Com esses níveis de P no solo, a concentração desse nutriente na MS da planta fica acima de 0,25 %, nível este não limitante à produção de forragem.

Para as adubações de manutenção, consideramos a aplicação de 1,5 a 2,0 kg de P/t de MS produzida.

Perdas de P dos Fertilizantes

As perdas de P dos fertilizantes ocorrem sobre as formas de erosão e de fixação. Segundo Corsi (1989), o P não volatiliza nem é lixiviado e em pastagens bem manejadas não há perdas por erosão. Desta forma, devemos considerar apenas as perdas por fixação. Em solos arenosos e ácidos ocorrem perdas de 50 % do P dos fertilizantes; já em solos argilosos e ácidos, as perdas chegam a 80 %.

Fontes de P

As reservas de fósforo brasileiras estão concentradas atualmente nos estados de Minas (Araxá, Patos de Minas, Tapira) e de Goiás (Catalão), mas existem reservas nos estados de SC, SP, BA, PE e MA. A rocha fosfatada pode ter os seguintes destinos: a) Moagem, que dá origem ao fosfato natural moído; b) Ser misturada com rocha magnesiana e submetidas ao calor, dando origem ao termo fosfato Yoorin; c) Ser parcialmente acidulada pelo H2SO4; d) Ser totalmente solubilizada pelo H2SO4 para a produção dos fosfatos solúveis em água, tais como os superfosfatos simples e triplo e os fosfatos mono amônio e diamônio.

Os fosfatos naturais brasileiros contem entre 26 e 37% de P2O5 total e praticamente não possuem P solúvel em H2O + CNA. A solubilidade ocorre praticamente em ácido cítrico e varia de 3,0 a 5,5%, sendo, portanto, de baixa solubilidade, variando de 8,1 a 21% do P2O5 total. Os fosfatos naturais, importados e de origem sedimentar, contém de 28 a 33% de P2O5 total e solubilidade variando de 7,2 a 12,5%, nos fosfatos da Flórida, da Carolina do Norte (Atifós), de Gafsa e de Arad, ou seja, entre 22 e 44% do P2O5 total. Praticamente só contém P solúvel em acido cítrico. O termo fosfato Yoorin contem 18% de P2O5 total e 17,4% de P solúvel, sendo praticamente todo solúvel, mas apenas em acido cítrico. Já os fosfatos solúveis em H2O + CNA apresentam de 18 a 52% de P2O5 total e praticamente é todo solúvel.

Os fertilizantes fosfatados naturais brasileiros praticamente não possuem a forma de P solúvel em ácido cítrico a 2 %, ou em água, sendo considerados de baixa eficiência agronômica. A eficiência desses fosfatos é aumentada quando a sua aplicação é feita em solos ácidos (pH menor que 5,5), em forma de pó, bem fino, incorporados ao solo, e para forrageiras que têm associação com micorrizas. 

Em pastagens manejadas intensivamente, devem ser aplicadas fontes de P solúveis em H2O e CNA para a obtenção de respostas de adubação mais eficientes.  Nesse sistema de pastagem, a planta forrageira é estimulada a crescer rápido, devido ao aporte de nutrientes aplicados, via adubação, principalmente o nitrogênio, e nesta condição o P precisa estar disponível para não limitar a produção. Fontes de fosfatos naturais de alta e baixa reatividade liberam seu P lentamente e, por isso, não se prestam para os sistemas intensivos de uso da pastagem (CORSI et al., 2000). 

Não recomendamos o uso do fosfato natural brasileiro porque, além de sua baixa eficiência agronômica achamos que o seu uso é um desperdício de um recurso natural não renovável, cujas jazidas no Brasil são para apenas mais 55 anos e não tem nenhum substituto.