Rodrigo Carvalho é Engenheiro Agrônomo, atua na Empresa Rodrigo Carvalho Projetos e Consultoria com foco em Topografia, Engenharia, Gestão Ambiental e de Projetos em Bambuí/MG.

Muito se fala sobre as influências da agropecuária no desmatamento, nas suas pressupostas consequências prejudiciais à preservação do meio ambiente. Principalmente neste momento de reestruturação governamental, em que fica em evidência esta rivalidade entre agropecuária e meio ambiente, mais um dos tantos assuntos polarizadores dos últimos tempos, é importante que cada indivíduo baseie sua opinião em fatos e pesquisas, e não em suposições, idealismos e principalmente na repetição de opiniões de terceiros, tantas vezes equivocadas e carentes de fontes.

Este artigo, que é o primeiro de uma série de cinco, tem por objetivo apresentar uma visão diferente e um pouco mais realista a respeito deste impasse. Para a composição de toda a série, são utilizados dados obtidos de fontes legítimas, principalmente a Embrapa, instituição de pesquisa e mundialmente reconhecida, cujas próprias fontes são diversificadas e imparciais.

O tema apresentado foi foco de uma apresentação do Foro de Agricultura AmericadelSur, por Evaristo de Miranda, chefe da Embrapa Territorial, sediada em Campinas, que estuda o território brasileiro, o uso e ocupação do solo, entre outras vertentes correlacionadas.

A intenção, aqui, não é desmistificar o desmatamento e a deterioração do meio ambiente, mas sim invocar os dados oficiais a respeito da relação de sua proteção e preservação com a agropecuária. A ideia é evidenciar a relevância da agropecuária brasileira, apresentar sua contribuição, que não é pouca, para com o meio ambiente, demonstrar o cenário real da proteção e preservação ambiental do Brasil, colocá-lo em paralelo com o de outros países, e comprovar como o agricultor é injustiçado e prejudicado, mais que qualquer outra categoria trabalhadora, mesmo contribuindo para com a preservação ambiental também mais do que qualquer outra categoria trabalhadora.

Cada Pessoa é Responsável, e não só os Agricultores

As informações e a realidade da agropecuária brasileira são extremamente dinâmicas, quase impossíveis de se acompanhar sem apoio de softwares e mapeamento contínuo. Neste sentido, a Embrapa Territorial reúne dados e informações oriundos não somente dos seus próprios levantamentos, mas também de fontes governamentais, a exemplo do Cadastro Ambiental Rural (CAR), da Organização das Nações Unidas (ONU), da United Nations Environment Programme (UNEP), da NASA e tantas outras.

A partir desta rica gama de informações, a instituição consegue compor um complexo mapeamento de todo o território nacional com precisão até maior que 10 metros. Ou seja, o Brasil é fielmente representado em seus arquivos.

Baseado nestes arquivos, é possível observar a evolução da realidade da agricultura e da pecuária de forma nacional ou de áreas muito específicas. Nas imagens a seguir, por exemplo, é apresentado o acompanhamento de uma pequena região do Nordeste entre os anos de 1990 e 2015.

As áreas em verde são de pastagem extensiva, as áreas em vermelho são de culturas de grãos, e as lilases são pivôs centrais. Trata-se de uma região no oeste da Bahia.




É perceptível a evolução, e isto se dá pela demanda de alimentos do país e do mercado exterior. É preciso enfatizar que cercar esta evolução implica na diminuição da disponibilidade de alimentos de todos os tipos na mesa de cada consumidor, especialmente os de classe econômica inferior. Afinal, quem tem poder aquisitivo vai continuar tendo acesso de qualquer maneira.

Existe o mito em que o agricultor é responsável sozinho pela ampliação das áreas de cultivo no Brasil e no mundo, mas o fato é que cada pessoa no planeta se alimenta, e qualquer tipo de alimento, seja de ordem animal ou vegetal, tem sua origem no campo. Ou seja, não são os agricultores os únicos responsáveis, mas toda a humanidade. O que acontece é que, como são eles que provém o alimento em sua origem, ideologicamente, por falta de informação e às vezes até de bom senso, é imposta erroneamente a eles a totalidade de tal responsabilidade.

Todas as pessoas se alimentam e, portanto, todas são corresponsáveis pela necessidade das atividades agropecuárias. Este é o primeiro ponto. A mesma pessoa que protesta contra as atividades agropecuárias possivelmente reclamaria da falta de vegetais na feira, de alimentos nos supermercados e de carnes nos açougues, caso o avanço da agropecuária fosse interrompido.

Mas este não é o ponto principal desta série de artigos. Primeiro, vai ser abordada rapidamente a relevância extrema da agropecuária brasileira e, depois, detalhada a realidade da composição vegetacional do Brasil. Conforme a série avança, algumas convicções vão cair.

A Relevância da Agropecuária Brasileira

Quando se fala em produção, o objetivo não é somente produzir muito, mas sim produzir muito, com qualidade e barato. Caso contrário, seria impossível concorrer com o mercado internacional, tanto nas exportações como nas vendas dentro do país. O fato é que, segundo a própria Embrapa, além da Companhia Nacional do Abastecimento (CONAB) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), O Brasil está conseguindo.

Fonte: CONAB, 2017; USDA, 2017

A linha “share” da imagem se refere ao marketshare de cada produto, que é a sua participação no mercado mundial de exportações. Percebe-se a força do agronegócio brasileiro para os produtos apresentados. Significa, por exemplo, que 76% do suco de laranja produzido no Brasil, são consumidos no planeta.

Não é difícil imaginar o impacto negativo na economia nacional que seria promovido pela diminuição do ritmo produtivo.

Mas, antes que alguém pense que está sendo usada a economia como justificativa para a degradação ambiental, vem o foco principal deste texto, que é a realidade da preservação e proteção ambiental brasileira e a participação do agricultor nesta preservação.

Atribuição, Ocupação e Uso das Terras no Brasil

A Embrapa territorial detém e gerencia informações sistematizadas e detalhadas sobre atribuição, ocupação e uso das terras no Brasil.

Em um primeiro momento, cabe diferenciar os termos. São dimensões parecidas, mas não confundíveis, e é a partir delas que será demonstrada a contribuição sem igual do agricultor para com a preservação ambiental, muito além de qualquer categoria trabalhadora.

Atribuição de terras: diz respeito à destinação de terras, em geral pelo Poder Executivo, a Unidades de Conservação, Terras Indígenas, comunidades quilombolas e assentamentos de Reforma Agrária. São convertidas geralmente por meio de desapropriação, e permanecem intocáveis pelo agricultor comum.

Ocupação de terras: se refere à ocupação principal de cada porção de terras, sem considerar sua utilização secundária. Por exemplo, se uma área é plantada com cana-de-açúcar, e parte dela recebe cultivo de alguma leguminosa no momento da reforma do canavial, a ocupação é dada pela cultura principal, a cana-de-açúcar, e o uso é atribuído à cultura em vigor naquele momento especificamente, ou seja, a leguminosa. Nesta classificação, de ocupação de terras, são catalogadas as Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal.

Uso de terras: é dado pela utilização da terra no momento específico, como já explicado na definição de ocupação. Aqui, de fato, são relacionadas as utilizações da parte do agricultor.

Cada uma destas três dimensões será abordada em detalhes, em nível nacional, e conforme o assunto se desenvolve nos próximos artigos da série, vai ficar claro quanto do território nacional é utilizado pela agropecuária, quanto é atribuído, protegido e preservado e quanto é destinado a infraestruturas e centros urbanos, e vai ficar esclarecida a real participação da agropecuária não só em relevância, mas em área no Brasil.

Sugiro que acompanhe, porque o resultado irá surpreender positivamente.