Imagem: Pixabay 

Alguns motivos podem influenciar a estabilidade na produção de leite em um país. Neste artigo, o tema não é amplamente esgotado e merece uma abordagem ainda maior, mas dá para enumerar alguns motivos mais aparentes que levam a uma estagnação na produção de leite num país. Desde já, é preciso salientar, que na mesma série histórica analisada, vários outros indicadores apresentaram evolução positiva, tal como a produtividade por animal, que inclusive teve redução no rebanho de vacas ordenhadas, resultado da adoção de tecnologias, dentre outras variáveis. Mas vamos ao foco desse artigo. Na imagem abaixo, com dados da Embrapa, percebe-se uma estagnação na produção de leite no Brasil desde 2014; até lá a produção vinha num crescente aumento ano após ano desde o ano 2000. Mas quais os motivos pelos quais a produção anual no país se estagnou?

Fonte: Embrapa 

Alguns dos motivos podem ser: custos de produção elevados, condições climáticas adversas, falta de investimento em tecnologia, desafios no manejo do rebanho, grandes oscilações nos preços, importação de produtos lácteos, políticas governamentais e demanda interna reduzida. Todos esses fatores somados, possuem uma capacidade destrutível de interromper uma série histórica de crescimento e desmotivar milhares de produtores que ainda acreditam na pecuária de leite como forma de atividade econômica. Na sequência um comentário acerca de cada um desses motivos e ao final, talvez uma luz no fim do túnel.

Custos de produção elevados: se os custos associados à produção de leite, como alimentação do rebanho, medicamentos, mão de obra e energia, aumentam significativamente, os produtores podem enfrentar dificuldades financeiras, levando a uma redução na produção. Não coloquei por ordem de importância, mas acredito, que seja esse um dos grandes desafios de quem está atualmente na atividade. Veja o gráfico abaixo, sobre a relação de troca entre o preço do leite cru (Média Brasil) e do milho (média mensal do Indicador ESALQ/BM&FBOVESPA - saca de 60 kg). De acordo com o Boletim do Leite CEPEA/ESALQ, o produtor precisou de 30,1 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg do grão, 12,8% a mais que em setembro. Essa oscilação na relação de troca, assim como no custo de produção é muito perceptível ao longo dos anos.

Fonte: Boletim do Leite CEPEA 

Condições climáticas adversas: eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, inundações ou mudanças abruptas nas condições meteorológicas, podem afetar a disponibilidade de pastagens e recursos alimentares para o gado, reduzindo a produção de leite. Em 2023, vimos uma das maiores altas na temperatura ambiente, algo jamais visto antes, interferindo de forma negativa no desempenho produtivo na pecuária leiteira.

Falta de investimento em tecnologia: a adoção de tecnologias avançadas, como práticas modernas de ordenha, monitoramento da saúde do rebanho e sistemas de alimentação eficientes, pode aumentar a produtividade. A falta de investimento ou acesso a essas tecnologias pode levar a uma diminuição na produção, dessa forma, visto pela dificuldade de acesso, aliado ao baixo poder de investimento, quando associado ao mercado atual (preços em queda e custos elevados).

Desafios no manejo do rebanho: problemas relacionados à saúde do gado, falta de uma gestão eficiente, e problemas de reprodução podem contribuir para a redução na produção de leite.

Grandes oscilações nos preços: variações nos preços do leite no mercado podem influenciar a rentabilidade dos produtores. Se os preços caírem, os produtores podem ser desencorajados a manter ou expandir suas operações e na maioria dos casos, promover o encerramento das atividades. No gráfico abaixo, com dados do Boletim do Leite CEPEA/ESALQ, os preços iam até bem até abril de 2023 quando se iniciou uma das maiores quedas no preço do leite na série analisada, momento esse totalmente diferente do encontrado no mesmo período de 2020, quando em abril os preços começaram a subir. Lidar com a incerteza mensal de não saber quanto receber é de fato um dos grandes desafios da pecuária leiteira.

Fonte: Boletim do Leite CEPEA 

Importação de produtos lácteos: a competição com produtos lácteos importados pode afetar a produção local, especialmente se houver uma oferta abundante desses produtos a preços mais baixos. De acordo com o Boletim do Leite do CEPEA/ESALQ, “com importações crescentes, déficit na balança comercial de lácteos sobe para US$ 80 mi”. Apesar da notícia ser atual, de dezembro de 2023, ela já é uma conhecida de muitos. As importações são um caso discutível e até o momento sem uma solução aparente e que de certa forma, vem prejudicando uma cadeia inteira. 

Políticas governamentais: mudanças nas políticas governamentais relacionadas à agricultura, subsídios e regulamentações podem ter um impacto significativo na produção de leite.

Demanda interna reduzida: mudanças nos hábitos de consumo, preferências alimentares ou problemas econômicos que afetam o poder de compra da população podem resultar em uma diminuição na demanda por produtos lácteos, afetando a produção. Na imagem abaixo, da Embrapa, percebe-se uma estagnação no consumo aparente per capita de leite e derivados no Brasil de 2000 a 2022 (litros/habitante), enquanto que em outros países, como os EUA, esse consumo quase que dobra.

Fonte: Embrapa 

Os fatores que motivam essa redução e ou estagnação na produção anual de leite no Brasil aqui apresentados, podem ter derivações ainda maiores, com uma discussão aprofundada e o que resta ao produtor de leite é buscar alternativas que estão ao seu alcance para a melhoria da margem financeira. Cada sistema, cada região e cada produtor, tem as suas particularidades, que inclusive precisam ser colocadas e consideradas ao se estabelecer ações para a melhoria do cenário atual.

Texto de Guilherme Resende de Oliveira, Sócio Fundador do Movimento Agro, Técnico em Agricultura e Zootecnia pelo CEFET Bambuí/MG, Administrador de Empresas para FASF/UNISA, Pós-Graduado em Gestão de Cooperativas de Crédito.