Essa é uma reprodução do Anuário do Leite 2022 da Embrapa adaptada pela equipe Movimento Agro.

Captação estável com menos produtores, mas com maior produtividade. Em 2021, a maioria das grandes empresas de laticínios apresentou recuo na recepção de leite, mas que foi compensado por melhores índices de produtividade.

O tradicional Ranking das Maiores Empresas de Laticínios do Brasil, edição 2021, revelou indicadores bastante variáveis no grupo das 13 indústrias analisadas. As diferenças variam entre índices positivos e negativos na comparação 2021/2020 nos campos Recepção de Leite, Número de Produtores e Litros/Produtividade. Já o volume total de leite captado se mostrou praticamente estável entre os dois períodos, com poucos mais de 150 mil litros a mais no ano passado, que somou 10.718.523 litros, descontando-se a empresa Aurora, que não fez parte do levantamento anterior. 

Na liderança do levantamento manteve-se o Laticínios Bela Vista (Piracanjuba), que captou em 2021 volume total de 1.751.198 bilhão de litros, seguido da Unium, com 1.300.189 bilhão; Nestlé, com 1.182.997 bilhão, e Embaré, com 652.381 milhões. A exemplo da ordem classificatória desse conjunto de empresas, as demais posições também se mantiveram inalteradas no biênio analisado no ranking elaborado pela Abraleite, com apoio da CNA, OCB, Viva Lácteos, Grupo G100 e Embrapa Gado de leite, com o patrocínio da SobControle Fazenda. Três empresas ficaram fora da lista por não divulgarem seus balanços: Lactalis/Itambé, Italac e Tirol.

No total, juntas, as 16 empresas representaram em 2021 metade do leite formal captado, cerca de 12,5 bilhões litros. Somando-se a captação de produtores fornecedores próprios e de terceiros, do grupo ranqueado nesse ano, apenas duas empresas apresentaram indicador positivo na recepção (Unium e CCGL), enquanto todas as demais admitiram terem processado menos. Para Roberto Jank Jr, diretor da Abraleite, a inflação do agro, com grãos dobrando de preços em dólar e ainda potencializados pela taxa de câmbio, foi responsável pela redução do consumo em cerca de 8%, com efeito direto na indústria. 

“A redução da produção acompanha a redução de consumo e queda nas importações. Há um novo patamar de oferta e consumo, desta vez mais baixo”, explica. Sobre a redução de produtores indicada na tabela 1, aplica uma interpretação que pode revelar sinais de tendência para os próximos anos. “A captação de terceiros caiu 10%, porém de produtores próprios, apenas 1%. Isso mostra fidelização, rastreabilidade e maior preocupação com a origem da matéria-prima”. É o que se vê no levantamento, com a maioria das empresas reduzindo significativamente a compra de leite no mercado spot em 2021. 

O dirigente, que é também produtor de leite (Fazenda Agrindus), entende que o crescimento da produtividade e da queda no número de produtores apontado do estudo é e será inexorável no segmento da produção, assim como ocorreu em outros países. No período analisado, apenas uma das 13 empresas (Cativa) teve aumento de produtores, enquanto todas as demais reduziram o grupo fornecedor. Sobre o indicador de produtividade, o aumento marcou os resultados de dois terços das empresas arroladas, algumas chegando a alcançar índices positivos que bateram entre 15 e 26%.

INVESTIMENTOS E TRANSFORMAÇÃO EM BUSCA DE UM NOVO PATAMAR

“O grande entrave do setor é o frete primário de captação. O aumento do diesel agravou isso. Para resolver tal impasse, apenas adotando uma menor distância por litro captado, em unidades de produção com maior escala. Não existe outra forma de solução. Ganhos de produtividade por hectare, por km rodado, por mão de obra ou por qualquer outro indicador, são fundamentais para nosso leite do futuro”, destaca Jank, para se fazer melhor entendido a respeito das variações que vêm sendo observadas na gestão das indústrias de laticínios do país. 

Nesse sentido, um dos destaques do ranking é a Unium (marca institucional das Cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal), que teve aumento de captação entre 2020-2021, saltando de 1,292 bilhão de litros para 1,300 bilhão; reduzindo produtores em 13,5% e elevando a produtividade em 17,9%. Tais índices estão na previsão de crescimento na produção de leite de 8% ao ano entre 2020 e 2024. A iniciativa é vista como uma forma de absorver esse volume, que pode representar 600 mil litros a mais por dia, boa parte destinada para o projeto de implantação de uma queijaria na cidade de Ponta Grossa-PR, que deve absorver investimentos de R$ 460 milhões.

Para o diretor presidente da Castrolanda e um dos diretores da Unium, Willem Berend Bouwman, esse projeto atende ao crescimento continuado da produção de leite dos cooperados. “O grupo se adiantou e buscou uma solução rentável para mostrar aos parceiros que todo o aumento será revertido em produtos e valor agregado”. Inicialmente, o projeto prevê a captação de até 800 mil litros de leite por dia, convertidos em 80 toneladas de queijo, o que fará da queijaria umas das principais do país em capacidade de produção. O sistema de tratamento do leite e fabricação do queijo será inteiramente fornecido pela Tetra Pak. 

Outro destaque do ranking da Abraleite é a Embaré (dona de marcas como a Camponesa), que elevou a produtividade em 26,7%, reduziu o número de produtores em 12%, sem comprometer a recepção de leite, que totalizou 652,381 milhões de litros, em 2021. O próximo passo para se ter um volume ainda maior foi dado no início deste ano com a fusão firmada com o laticínio cearense Betânia Lácteos. A transação deve criar uma empresa com faturamento de R$ 4 bilhões. O primeiro lance desse novo negócio é uma fábrica de leite em pó, em Morada Nova-CE, com capacidade para processar 200 mil litros de leite/dia. 

Diante de tal cenário de investimentos e transformação, Jank Jr. lembra que a produção e o consumo de leite no país dobraram entre 1974/2014. “Crescemos cerca de 5% ao ano, continuamente por 40 anos. Porém, entre 2015 e 2021 esse crescimento foi muito próximo de zero. A pandemia e a inflação do agro agravaram esse quadro e amargamos queda importante no consumo e produção, em busca de um novo patamar”. Por trás dessa ordem, segundo ele, está a relação entre custo e consumo, que afetou o leite, que absorveu todos os custos da inflação do agro. “Essa pressão passou de forma intensa pelo produtor e pela indústria e acabou atingindo o consumidor doméstico de laticínios”.