Esta é uma série, que traz trechos da publicação Boletim Técnico 199, da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Do pasto ao leite: uma atividade rentável e sustentável, Como produzir 18 mil litros de leite por hectare.

Principais indicadores técnicos que influenciam na produtividade por área

Além dos fatores ligados ao ambiente macroeconômico, a eficiência zootécnica se constitui num dos principais fatores a determinar a lucratividade da atividade leiteira. 

O desempenho técnico-econômico da atividade leiteira pode ser avaliado através de vários indicadores, tanto de ordem técnica quanto de ordem econômica; ou seja, as relações e as interações que existem entre os indicadores e suas influências nos custos de produção e na rentabilidade da atividade. 

A produtividade animal é consequência da ação integrada de vários fatores de produção, sendo correlacionada principalmente à nutrição, reprodução, sanidade, do potencial genético para produção de leite e do manejo utilizado no sistema. 

Nos sistemas de produção de leite à base de pasto, a produção de leite por área é o principal parâmetro de análise a ser considerado, que se relaciona à produção média diária ou anual e à área útil destinada para a atividade, sendo expressa em litros de leite por hectare dia ou ano (Holmes, 1996).

A produtividade por área é um indicador da eficiência do uso de recursos forrageiros da propriedade e do potencial produtivo das vacas. É correlacionado com a eficiência produtiva e reprodutiva das vacas e, ainda, com a estrutura de rebanho e com a capacidade de lotação dos pastos.

Capacidade de Suporte do Sistema Produtivo

A importância da taxa de lotação na eficiência das fazendas leiteiras é reconhecida há muitos anos. McMeekan (1961) destaca que “Não há fator mais importante para produção animal a pasto do que a capacidade de lotação do sistema”, sendo este o fator de decisão que mais afeta a produtividade e a eficiência de uma propriedade leiteira. Holmes (1996) e MacDonald et al. (2008) corroboram com McMeekan e ainda afirmam que a capacidade de lotação de um sistema reflete seu potencial de produção e que, isoladamente, o aumento da lotação das pastagens é o fator que contribui mais decisivamente para os aumentos na produtividade por área.

A taxa de lotação e a eficiência do processo produtivo dependem da quantidade de pasto produzido, da sua qualidade e do ciclo produtivo, que, por sua vez, se relaciona com a espécie e o seu potencial produtivo, com as condições climáticas, a fertilidade do solo e com o manejo das pastagens (MCMEEKAN, 1961).

Inicialmente, a taxa de lotação foi expressa simplesmente como número de vacas por hectare e foi usada como uma medida simples da razão entre a demanda e a oferta de alimentos. Entretanto, diferenças óbvias entre raças e linhagens genéticas em relação ao peso vivo resultaram numa definição cada vez mais pouco informativa e enganosa (HOLMES & ROCHE, 2007). 

Para resolver em parte este problema, adotou-se o uso da unidade animal no cálculo da taxa de lotação, que tem a finalidade de padronizar o efeito das diferentes categorias animais sobre a capacidade de suporte dos pastos, assumindo que 1,0UA corresponde a um animal de 450kg de peso vivo. Dessa forma, a taxa de lotação é expressa como o número de animais de 450kg (UA) pastejando por unidade de área, por um determinado período. 

Entretanto, ela em si não reflete a capacidade de suporte efetiva das pastagens, haja vista que não apresenta relação com potencial produtivo real das pastagens. Esta expressão ‘taxa de lotação’ foi melhorada por MacDonald et al. (2001) e denominada como ‘taxa comparativa de lotação’, onde o peso vivo total do rebanho fornece uma medida melhor da demanda potencial de ração do que o número de vacas por hectare. E, da mesma forma, a quantidade total de ração fornecida fornece uma quantificação mais precisa do suprimento de ração do que a área cultivada. Isso sugere que a relação entre o peso total do rebanho e o suprimento total de ração é uma medida mais útil em relação à taxa de lotação. Isso é chamado ‘taxa de lotação comparativa’ e é expressa como: 

Taxa de lotação comparativa = kg PV/t MS ofertada

Onde: a matéria seca (MS) total ofertada inclui pastagens cultivadas, forragens conservadas e concentrados. Essa expressão leva em consideração as diferenças de peso vivo entre raças e nas diferentes categorias de animais, bem como dos alimentos extras importados. 

É importante destacar que o cálculo da taxa de lotação é feito considerando-se apenas o peso vivo dos animais, pois uma série de fatores que interferem no consumo de pastos não é considerada, como, por exemplo, o potencial genético, a categoria animal e o fornecimento de alimentos suplementares. Para vacas lactantes em pastejo, o concentrado pode representar 20 a 40% do consumo total de matéria seca. Além disso, a suplementação concentrada provoca alterações no consumo de forragens, de modo que ocorre substituição de parte da forragem da dieta pelo concentrado (taxa de substituição).

O consumo alimentar é geralmente expresso em kg de MS/UA/dia (quilos de matéria seca por unidade animal por dia). Estima-se que uma (1,0) UA consuma em média 13,3kg MS de pasto por dia, com projeção de 4.850kg de matéria seca por ano (NRC, 2001). Entretanto, existe um diferencial entre as necessidades de consumo e as necessidades de oferta (pasto produzido). Esta relação é dependente de vários fatores relacionados às condições edafoclimáticas, ao pasto e ao seu manejo, ao potencial produtivo das vacas e ao gerenciamento nutricional adotado na propriedade.

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