Um grupo de 21 criadores de gado leiteiro de Castro conseguiu a façanha de aumentar a produção do rebanho em 60%. Até março de 2019 cada uma das propriedades produzia diariamente, em média, 260 litros de leite. Em outubro do ano passado o volume chegou a 433,5 litros. O segredo foi investir na alimentação, melhoria do rebanho e manejo dos animais.  O grupo de produtores faz parte de um trabalho desenvolvido pela Cooperativa Castrolanda em parceria com o IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater). Os técnicos fazem o acompanhamento intensivo de cada propriedade e levam até os produtores boas práticas que resultam em mais produção e renda para os proprietários de gado leiteiro.

Mesmo com a pandemia os produtores que participam desse trabalho puderam contar com o atendimento dos servidores do IDR-Paraná e técnicos da Cooperativa, por meio de atendimento remoto e visitas durante as quais foram tomados os devidos cuidados contra o Covid-19. "Cada produtor teve um acompanhamento para fazer a condução e o planejamento antecipado das pastagens de inverno, bem como do plantio de milho, no verão, para a produção de silagem. O trabalho começou com a análise de solo, para a correção da acidez e fertilidade. Junto ao produtor, o extensionista definiu a quantidade necessária de silagem de milho, o híbrido, data de plantio e toda a condução e manejo da lavoura.  Na hora de fazer a silagem o produtor foi orientado sobre o ponto de corte ideal, o tamanho das partículas e o processamento dos grãos, bem como o fechamento dos silos para se obter uma forragem de qualidade, diminuindo os custos com a alimentação dos animais", informou o extensionista Vilson Ortiz, do IDR-Paraná de Castro. Segundo ele, isso é importante para garantir a quantidade, a qualidade do alimento e o seu aproveitamento pelos animais.

Nutrição

Outro aspecto importante foi o acompanhamento nutricional do rebanho. Os técnicos do IDR-Paraná e Cooperativa Castrolanda fizeram o acompanhamento dos alimentos fornecidos aos animais e definiram o tipo e quantidade de alimento que cada um deles exigia. 

O trabalho não ficou restrito ao manejo de pastagens e do rebanho. Os extensionistas também incentivaram os produtores a investir na organização geral das propriedades com a implantação do Programa de Boas Práticas Agropecuárias (BPA). Para tanto, os produtores receberam orientações sobre bem estar animal, limpeza e manutenção dos equipamentos de ordenha e resfriador, rotina de ordenha, destinação correta das embalagens de agrotóxicos e resíduos veterinários, organização da “farmacinha” da propriedade, anotações e tratamento dos animais acometidos por mastite. "Todas essas medidas são fundamentais para garantir a qualidade final do leite, já que os produtores da Cooperativa Castrolanda são referência na produção de leite com qualidade", explicou Ortiz 

Os produtores assistidos também tiveram acesso a linhas de crédito de custeio ou investimento, pela Cooperativa Castrolanda e Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Os recursos foram investidos na construção e melhoria das instalações, aquisição de máquinas e equipamentos, bem como na compra de animais. As operações de crédito do grupo totalizaram um investimento de R$1.896.761,84.

Ganhos

De acordo com Vilson Ortiz, no início do plano a média da produção mensal, por unidade, era de 7.827 litros. Em dezembro de 2019 saltou para 10.952 litros e em outubro do ano passado chegou a 13.005 litros/mês. A produção total dos 21 produtores, que era de 148.722 litros em março de 2019, chegou a 273.105 litros, em outubro de 2020. 

A qualidade do leite produzido pelo grupo também melhorou. No início do trabalho o índice da Contagem de Células Somáticas era de 376,9 mil CCS/mL. Em outubro de 2020 ficou em 273,5 mil/CCS/ml. Ainda assim, atendendo às exigências da Instrução Normativa 76 e 77, do MAPA (Ministério de Agricultura), que estabelece o índice de, no máximo, 500 mil CCS/mL. O alto índice de células somáticas indica a ocorrência de inflamação no úbere dos animais e pode ser resultado do manejo inadequado dos animais ou mesmo uso incorreto dos produtos de limpeza e temperatura da água usada para lavar os equipamentos. "Nós vamos à propriedade e revisamos toda a rotina da ordenha para saber onde o produtor está errando e orientamos a correção das falhas", explicou Ortiz. Muitas vezes, a partir da orientação do técnico o produtor muda sua rotina, como por exemplo, começa a fazer um teste de CMT (Califórnia Mastite Teste), um controle leiteiro, linha de ordenha, ordenhando por último os animais mais velhos e com CCS mais elevada. É possível também que o extensionista indique a melhoria do ambiente onde ficam os animais, rodízio de piquetes para o pousio, e evitar a formação de barro nas proximidades da sala de ordenha. 

A Contagem de Padrão em Placas (CPP) pode demonstrar problemas principalmente quando não há uma higiene eficiente durante o processo. A correta higiene de ordenha e limpeza dos equipamentos, uso correto dos produtos, temperatura adequada da água e sua qualidade contribuem para manter baixa a CPP. 

E no grupo acompanhado pelo IDR-Paraná apresentou uma redução drástica na CPP. O índice passou de 105,5 mil UFC/mL para 21,1 mil UFC/mL. Uma redução de 80%. 

Os extensionistas também estão incentivando os produtores a fazerem o controle leiteiro, ferramenta de baixo custo e de resultados comprovados. Ortiz disse que com o controle mensal, o produtor cria um histórico de cada animal e pode ter um controle melhor da CCS, de produção, da gordura, da proteína e da ureia do leite de cada animal. “O controle leiteiro ajuda o técnico e o produtor na tomada de decisão para melhorar a qualidade do leite, a produção e o ajuste da dieta”, esclareceu o extensionista. 

2021

Para este ano, o trabalho com os produtores de Castro continua. Hoje a atuação do extensionista do IDR-Paraná é de dar assistência a 30 propriedades. Desse total, 25 são Unidades Produtoras Familiares e cinco Unidades de Referências. Ortiz também destaca que a Extensão Rural vem incentivando mais produtores a entregar leite para a Cooperativa Castrolanda. “Alguns vêm de outras empresas buscando melhorias e assistência técnica e outros estão começando do zero. Para isso, o trabalho começa com a profissionalização dos interessados muito antes de começarem a entregar a produção à Cooperativa.  Os produtores são incentivados a fazer o curso de Manejo na Bovinocultura Leiteira no Centro de Treinamento de Pecuaristas (CTP), do Senar” observou Ortiz. O produtor ainda recebe informações sobre as exigências de qualidade do leite, construção ou adequação das instalações, controle sanitários dos animais, acessos a propriedade e sala do leite, legislações ambientais, entre outros. “As instalações podem ser simples, mas devem ser práticas e precisam garantir saúde e bem estar aos trabalhadores e aos animais. Além disso, não deve haver qualquer dificuldade de acesso à propriedade para a coleta do leite, por exemplo”, acrescentou Ortiz. 

Para disseminar as informações, os extensionistas promoveram (antes da pandemia) a formação de grupos de estudo e reuniões. Grupos pequenos de produtores foram formados e se reuniram em propriedades para discutir assuntos de interesse, aliando teoria e prática. Extensionistas e produtores tiveram a chance de trocar informações, conhecimento e experiências. Essa prática deve continuar este ano, obedecendo a todas os protocolos em tempo de pandemia.

Reportagem: Roberto Monteiro