A oferta de leite segue limitada no campo, devido à seca em importantes bacias leiteiras e ao aumento expressivo dos custos de produção. Como consequência do menor volume disponível, indústrias seguiram competindo pela compra de matéria-prima em maio – o que deve elevar, pelo terceiro mês consecutivo, o valor no campo a ser recebido pelo produtor em junho. E pesquisas em andamento realizadas pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, indicam que a elevação no preço do leite pago em junho pode ser de pouco mais de 5% sobre a de maio, que foi de R$ 2,0364/litro (“Média Brasil”).

A média de janeiro a maio de 2021 está 33,4% acima da registrada no mesmo período do ano passado, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de maio/21). No entanto, a valorização do leite no campo não significa rentabilidade para o produtor, tampouco demanda aquecida dos lácteos: o cenário que se desenha é de bastante dificuldade para o setor, com margens espremidas tanto no segmento produtivo quanto industrial.

Sazonalmente, durante o outono e inverno, o menor volume de chuvas prejudica a qualidade das pastagens. Entretanto, neste ano, a seca tem sido mais intensa, atingindo com gravidade importantes bacias leiteiras do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do País e prejudicando a alimentação volumosa do rebanho. Sobretudo neste período do ano, a alimentação concentrada é importante para evitar quedas substanciais nos volumes de produção de leite. Contudo, a expressiva elevação dos preços do concentrado tem dificultado os investimentos na atividade. Pesquisas do Cepea mostram perda substancial na margem do produtor nos últimos meses, em decorrência do aumento dos custos de produção (ver seção Custos de Produção, na página 7).

As indústrias, por sua vez, estiveram competindo ainda mais pela compra de matéria-prima, para tentar manter suas posições no mercado lácteo. Em maio, as negociações de leite spot estiveram aquecidas, e o preço médio em Minas Gerais saltou de R$ 2,19/litro, na primeira quinzena do mês, para R$ 2,56/litro na segunda quinzena (alta de 16,5%). Vale lembrar que, na segunda metade de abril, o preço médio era de R$ 2,04/litro.

Com a valorização da matéria-prima e com os estoques de lácteos enxutos, os preços dos derivados também se elevaram em maio (ver seção Derivados, na página 5). No entanto, as negociações seguiram limitadas, já que as cotações dos lácteos já estão em patamares altos e a demanda, fragilizada, por conta do menor poder de compra de grande parcela da população brasileira.

De abril de 2020 para abril de 2021, houve aumento de 38% no peso que o valor da matéria prima representou no preço final do longa vida, de 22% no caso da muçarela e de 12% para o leite em pó. Isso significa que a indústria, apesar de impor aumentos importantes nos valores finais dos lácteos, não têm conseguido fazer o repasse completo dos custos elevados no campo, de modo que suas margens também estão sendo pressionadas.

MILHO: Com liquidez baixa, preços voltam a recuar no BR

Após acumularem fortes altas e atingirem recordes reais, os preços do milho caíram na primeira quinzena de junho, influenciados pela proximidade da colheita da segunda safra 2020/21. Compradores adiaram as negociações de grandes lotes, na perspectiva de melhores oportunidades com o avanço da colheita. Vendedores, por sua vez, estiveram receosos em ofertar volumes elevados, visto que muitos ainda estão incertos com a produtividade das lavouras e os estoques estão baixos.

Nesse cenário, a liquidez está baixa. Assim, no acumulado da primeira quinzena de junho (31 de maio e 15 de junho), o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas- SP) caiu fortes 6,8%, fechando a R$ 93,27/saca de 60 kg no dia 15. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações recebidas pelo produtor (mercado de balcão) recuaram 2,4% entre 31 de maio e 15 de junho. No mercado de lotes (negociações entre empresas) as cotações caíram 3,4% no mês.

Já no mercado internacional, a perspectiva de estoques mais justos elevou os preços na Bolsa de Chicago (CME Group). Assim, entre 28 de maio e 15 de junho, o contrato Jul/21 se valorizou 1,64%, fechando a US$ 6,675/bushel (US$ 262,78/t) no dia 15. O contrato Set/21 avançou 3,23%, indo para US$ 5,9175/bushel(US$ 232,96/t).

FARELO DE SOJA: Oferta se sobressai à demanda e preços caem

Nas principais regiões brasileiras acompanhadas pelo Cepea, os preços de farelo de soja caíram, passando a operar nos menores patamares desde setembro/20, em termos nominais. A pressão veio do encerramento da colheita na Argentina (principal exportadora global de derivados de soja), da desvalorização do dólar frente ao Real (que torna as commodities brasileiras menos atrativas aos importadores) e da expressiva queda nos valores da oleaginosa na CME Group (Bolsa de Chicago). Além disso, os preços do farelo também foram influenciados pelo enfraquecimento nas cotações da matéria-prima.

A demanda por farelo de soja esteve mais aquecida nos primeiros 15 dias de junho, mas a oferta ainda se sobressaiu à demanda doméstica. Com isso, consumidores relataram certa facilidade nas aquisições de farelo de soja, mas não mostraram interesse em fazer estoques longos, na expectativa de preços ainda menores nos próximos meses. Essas expectativas estão fundamentadas nas condições climáticas favoráveis às lavouras de soja nos Estados Unidos.

Diante disso, na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços de farelo de soja caíram 4,6% de maio para a primeira quinzena de junho. Os valores atuais, contudo, ainda estão 37% superiores dos verificados há um ano.