O preço do leite captado em dezembro de 2020 e pago aos produtores em janeiro de 2021 registou queda de 4,3% na “Média Brasil” líquida, chegando a R$ 2,0344/litro. E pesquisas ainda em andamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, apontam que a essa tendência de queda deve permanecer nos próximos meses. A expectativa é de que o leite captado em janeiro e pago ao produtor em fevereiro registre recuo médio de cerca de cinco centavos por litro

A desvalorização do leite no campo se deve ao enfraquecimento da demanda por lácteos, dado o contexto de diminuição do poder de compra do brasileiro, do fim do auxílio emergencial para muitas famílias, do recente agravamento dos casos de covid-19 e da elevação do desemprego.

Colaboradores consultados pelo Cepea informaram que, diante da instabilidade do consumo, há um esforço das indústrias em ajustar a produção para manter os estoques controlados, de modo a evitar quedas mais bruscas de preços, tanto para os derivados quanto para o produtor. No entanto, o nível de estoques vem crescendo, e, desde dezembro de 2020, observa-se a intensificação da pressão exercida pelos canais de distribuição junto às indústrias para obter preços mais baixos nas negociações de derivados.

Pesquisas do Cepea, com apoio financeiro da OCB, mostram que, na média de janeiro, os preços do leite UHT e do queijo muçarela negociados no atacado do estado de São Paulo caíram 6,8% e 8,9%, respectivamente, enquanto os do leite em pó se mantiveram praticamente estáveis. As negociações de leite spot em Minas Gerais também recuaram, 12,3% na média mensal de janeiro. A tendência de queda continuou em fevereiro para os derivados. No caso do spot, a média mensal recuou 0,7%. Esses resultados devem influenciar negativamente a precificação do leite captado em fevereiro e pago ao produtor em março.

Apesar de haver uma perspectiva de queda nos preços do leite no campo para fevereiro e março, espera-se que a média neste primeiro trimestre de 2021 ultrapasse a verificada no mesmo período de 2020 (quando a média foi de R$ 1,4655/litro, em termos reais – os valores foram deflacionados pelo IPCA de dezembro/20). 

No entanto, é importante pontuar que preço não é sinônimo de rentabilidade. Mesmo que os valores do leite estejam em patamares considerados altos para o período do ano, a valorização considerável e contínua dos grãos (principais componentes dos custos de produção da pecuária leiteira) tem comprometido a margem do produtor e limitado o potencial de crescimento da atividade. Pesquisas do Cepea mostram que o pecuarista precisou de, em média, 41,2 litros de leite para a aquisição de uma saca de 60 kg de milho, 16,3% a mais que em dezembro/20.

Milho: Comercialização é lenta, e atenções se voltam ao campo

O ritmo de negócios envolvendo milho esteve lento no mercado brasileiro nas primeiras semanas de fevereiro. Produtores voltaram as atenções aos trabalhos de campo e ao desenvolvimento da safra de verão 2020/21. Diante disso, muitos vendedores se afastaram do spot – apenas alguns agentes tentaram negociar os lotes finais de 2019/20. Compradores, por sua vez, estiveram resistentes em negociar nos atuais patamares de preços. 

Quanto aos preços, na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, o valor da saca de milho avançou leve 0,1% no mercado de balcão (preço pago ao produtor), mas caiu 1,3% no disponível (negociação entre empresas). As quedas só não foram mais acentuadas devido à sustentação dos preços no Rio Grande do Sul – nesse estado, agricultores estão preocupados com a produtividade, mesmo diante da recente melhora do clima. 

Dados da Conab indicam que a produção da safra de verão 2020/21 deve somar 23,62 milhões de toneladas, 8% inferior à temporada anterior e a menor desde 1990/91. As reduções estão atreladas a irregularidades das chuvas durante o desenvolvimento das lavouras no Sul e na maior parte do Sudeste do País. Para a segunda safra, a Conab estima aumento de 6,7% na produção, que somaria 80,07 milhões de toneladas. Para a terceira safra, a estimativa ainda é de 1,77 milhão de toneladas. Com isso, a produção total é estimada em 105,4 milhões de toneladas, alta de 2,9% frente ao ano anterior.

Farelo de Soja: Baixa oferta mantém preço em recorde nominal

Diante do atraso na colheita de soja no Brasil, a oferta de farelo de soja segue limitada, dificultando o abastecimento dos consumidores para o curto prazo – grande parte dos compradores sinaliza não ter estoques longos. Com isso, os preços de farelo de soja seguem renovando os patamares recordes, em termos nominais, da série do Cepea, iniciada em janeiro de 1999. 

As regiões que negociam o farelo a preços recordes são: Campinas, Mogiana e São Carlos (SP); Ijuí, Passo Fundo e Santa Rosa (RS); Rio Verde e Itumbiara (GO); Maracajú (MS); Ponta Grossa e norte do Paraná (PR); Chapecó (SC), Oeste Catarinense e Triângulo Mineiro. Considerando-se as regiões acompanhadas pelo Cepea, os valores de farelo de soja subiram 3,8% entre as médias de janeiro e a da parcial de fevereiro (até o dia 17). O atual preço do subproduto está mais que o dobro acima do observado há um ano. 

O lado bom para os compradores é que as indústrias já têm ofertado lotes de farelo de soja com entrega a partir de março a preços inferiores aos praticados no mercado spot. Isso porque, além de a oferta da matéria-prima ser maior, diante da intensificação na colheita do grão, o contrato com vencimento em março/21, na Bolsa de Chicago (CME Group), indica queda nos valores, de 2,7% entre janeiro e a parcial de fevereiro, pressionando, assim, a paridade de exportação do derivado no Brasil, para contratos de março.