Demanda aquecida deve manter os preços firmes em 2021

Cepea, Piracicaba – Os baixos estoques, a demanda firme e as incertezas quanto ao tamanho da oferta da temporada 2020/21 devem manter em 2021 os preços internos do milho em patamares acima da média de anos anteriores. 

As lavouras brasileiras da primeira safra foram prejudicadas pelo clima seco, em especial no Sul do País. Para a segunda safra, o cultivo mais lento e tardio da soja, comparativamente a anos anteriores, traz temores sobre como será a semeadura de milho e se haverá impactos na produtividade. Com isso, a temporada 2020/21 deve se iniciar com incertezas em torno da oferta de milho – por enquanto, as estimativas oficiais indicam produção recorde no Brasil e no mundo. 

Do lado da demanda, deve continuar aquecida nos mercados doméstico e internacional. No Brasil, o consumo segue crescente, refletindo o maior interesse do setor pecuário e também de novas usinas de etanol de milho do Centro-Oeste. As exportações devem ser favorecidas pelo dólar valorizado e pela alta nas cotações internacionais. A comercialização antecipada, especialmente para exportação, tende a restringir a oferta no spot nos próximos meses, podendo acirrar a disputa pelo produto. Segundo o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), até meados de dezembro, 62,7% da produção 2020/21 de Mato Grosso havia sido comercializada, um recorde para o período. 

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a primeira safra de milho 2020/21 some 24,18 milhões de toneladas, 5,8% a menos que na temporada anterior, resultado da redução de 2,1% na área e da expectativa de queda de 3,8% na produtividade. A maior diminuição na produção é esperada para o Rio Grande do Sul, de 9,3%, seguido pelo Paraná, de 8,9%. No entanto, ainda são esperados novos ajustes devidos ao clima seco durante o desenvolvimento das lavouras.

Esta menor produção da primeira safra é preocupante, tendo em vista que dados indicam que, em janeiro/20, os estoques de passagens estejam nos menores patamares desde janeiro/17, sendo equivalente a 15,5% do consumo anual. E o consumo interno segue crescendo, estimado em 71,83 milhões de toneladas em 2020/21, 4,6% superior à temporada passada e 12% acima da média das últimas três safras.

A soma da produção do milho verão ao estoque de passagem resulta em disponibilidade de 34,8 milhões de toneladas para o primeiro semestre, o equivalente a 48% do consumo doméstico no ano, contra 52% na temporada passada – ou seja, na atual safra, o consumo interno deverá absorver quantidade maior da produção de milho da segunda safra.

Para a segunda temporada, por enquanto, a Conab mantém as estimativas de área da temporada anterior, mas prevê aumento de 2,3% na produtividade média nacional. Com isso, a produção do milho segunda safra 2020/21 é estimada em 76,7 milhões de toneladas, crescimento de 2,3% frente à anterior. Caso as estimativas da Conab se concretizem, a produção total de milho deverá atingir 102,59 milhões de toneladas.

Em Mato Grosso, após os problemas enfrentados no início da temporada, a semeadura de soja ganhou ritmo, finalizando acima da média dos últimos cinco anos, segundo o Imea. Apesar disso, a janela ideal de semeadura de milho de segunda safra ainda preocupa parte dos agentes. Até o momento, o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) indica que a área plantada no estado deve crescer 2,38%, mas a produtividade pode cair 2,52%, o que resultaria em produção de 36,3 milhões de toneladas em 2021.

A disponibilidade interna brasileira para a próxima safra – referente à soma de estoques iniciais, importação e produção – pode superar as 114,2 milhões de toneladas, quantidade 0,4% inferior à da temporada passada. Por outro lado, o consumo interno deve crescer em maior intensidade, e, com isso, a diferença entre a disponibilidade interna e o consumo seria de 42,4 milhões de toneladas, volume 6% inferior ao da safra passada. Esta quantidade estará disponível para exportação. Por enquanto, a Conab estima que 35 milhões de toneladas sejam embarcadas entre fevereiro/21 e janeiro/22.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a produção mundial seja de 1,143 bilhão de toneladas, aumento de 2,4% em relação à anterior, refletindo os incrementos de 6,5% nos Estados Unidos e de 7,8% no Brasil. O consumo deve somar 1,158 bilhão de toneladas, elevação de 2,2%.

Quanto às transações internacionais, o USDA projeta crescimento de 5,5%, indo para 184,6 milhões de toneladas. Por enquanto, a expectativa é de que o Brasil siga como segundo maior exportador, com 40 milhões de toneladas, seguido pela Argentina, com 33 milhões, e pela Ucrânia, com 24 milhões. Para os Estados Unidos, esperam-se que 66 milhões de toneladas sejam embarcadas.

Com perspectivas de aumento na produção e no consumo, o estoque mundial deverá atingir 288,9 milhões de toneladas, quantidade 4,8% inferior à da temporada passada. A relação estoque final/consumo global para a safra 2020/21 está em 25%, a menor desde 2013/14, o que deve sustentar os preços internacionais no médio prazo.

Ainda para 2020/21, o USDA estima que as importações da China atinjam 16,5 milhões de toneladas, 117% a mais que na safra anterior, o que pode favorecer as exportações brasileiras nos próximos meses.

Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Dr. André Sanches, Débora Kelen Pereira da Silva, Carolina Sales, Kaline Lacerda, Natália Guimarães, Natália Correr Ré e Thaís Bragion Bertoloti.

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